sábado, 14 de agosto de 2021

XXXIV

11/02/2021

Para bem viver nesse mundo, é preciso ter um conhecimento geral que abarque uma série de profissões. Isso porque não adianta simplesmente ter dinheiro e pagar pelo trabalho alheio, pois nesta guerra que chamamos de "sociedade" não dá para confiar a priori em ninguém. É preciso um conhecimento mínimo da profissão do profissional que estamos contratando, para termos condições de avaliar a competência e a confiabilidade desse profissional. Se simplesmente confiamos nos profissionais que nos assessoram, ficamos exposto a, no mínimo, sermos mal atendidos sem o sabermos e, no máximo, perdermos todo o nosso patrimônio em golpes.

Eis algumas das áreas que precisamos ter, no mínimo, um conhecimento geral e crítico (não adianta só saber o senso comum da área, é preciso ter um sendo crítico desse senso comum): comunicação (na sua língua natal e em outras, e CNV também), direito (civil, penal, imobiliário, trabalhista, administrativo), medicina (clínica geral, psiquiatria, neurologia, nutrologia, coloproctologia, gastroenterologia), administração, neurociências, psicologia, sociologia, filosofia, fisioterapia, educação física, nutrição, economia, assessoria de investimentos e de finanças, mentalismo, yoga, meditação, faxina, serviços elétricos e de encanamento, preparo de alimentos (saudáveis), informática, etc. É preciso, ainda, ser um exímio conhecedor da natureza humana, ser capaz de avaliar o caráter das pessoas e farejar golpes. Só isso, rs. Não surpreende que a vida da maioria das pessoas – e, por extensão, a vida das sociedades e da humanidade como um todo – seja composta uma sucessão de decisões desastradas. 


23/02/2021

O que parece ser um consenso dos humanos de todos os locais e épocas é que a vida aqui neste planeta não é fácil para ninguém. Quanto ao motivo para essa dificuldade, há milhares de explicações, e provavelmente algumas centenas delas estão parcialmente certas, ao abordar com mínima acurácia alguma das facetas da questão. Tantas outras se perdem em mitologias animistas ou em negacionismos das evidências empíricas. Abundam conclusões apressadas e propostas de soluções inviáveis, às quais as pessoas se agarram por fé, desespero e por instinto de sobrevivência no curto prazo.


06/04/2021

Se a razão, a lógica, o espírito, o conhecimento, o intelecto, a informação, a mente, etc. – se qualquer categoria racional, informacional, “limpa”, ligada às cosmovisões racioanalistas e teístas – fossem a essência do Real, então seria fácil para a mente humana chegar à Verdade. Como não são, então vemos essa multiplicidade sem fim de explicações, as quais nunca chegam à essência do Real justamente porque essa essência não é racional, não é intelectual, não é informacional, não é mental, etc.


23/04/2021

Se cada humano é levado a destruir a própria saúde (e a dos seus filhos) com uma coleção de hábitos ruins para a saúde mas bons para o lucro das corporações/dos poderosos, se cada um de nós é pouco consciente a respeito do que ocorre em nosso próprio corpo, ou mesmo se insistimos em hábitos prazerosos que sabemos danosos à nossa saúde, muito mais inconsciente e negligente é o coletivo dos humanos, em especial os urbanoides, a respeito da destruição do Outro, do planeta em geral e de cada forma de vida não humana em particular. A publicidade ambiental não consegue comover o público para além da morte de animais fofos.


02/07/2021

Guerra híbrida: ou você fica louco por acompanhar as notícias ou você se aliena delas. Nos dois casos, ganham os engenheiros do caos.


09/07/2021

Existe uma ligação entre a cosmovisão schopenhauriana e o colapso tautológico da espécie humana: a húbris.

Como a coisa em si desde mundo é um desejo inconsciente e, por isso mesmo, jamais satisfeito, todas as formas de vida (e mesmo o mundo inorgânico) são levadas ao limite e, quando passam desse limite, se autodestroem.

Essa húbris também se aplica às sociedades humanas, bem como à atual civilização tecnológica turbocapitalista globalizada (uma tentativa de projeto de civilização Kardashv tipo I). Também ela, movida por uma vontade inconsciente e jamais satisfeita, está empreendendo um movimento autopoiético suicida, pois corrói as bases da própria manutenção a longo prazo dessa autopoise. Em outras palavras, uma insustentabilidade. Em outras palavras, uma húbris.

Nossa sociedade atingiu um nível de consciência suficiente para que alguns indivíduos consigam ter consciência desse processo. Mas não atingiu o nível de consciência coletiva suficiente para conseguir pará-lo, para desarmar a reação em cadeia suicida.

O próprio Schopenhauer, de forma embrionária, se refere a essa situação quando fala, lá no tomo II d'O mundo..., capítulo XLVI, que já estamos no pior dos mundos possíveis, pois se ele piorasse um pouco ele deixaria de existir. Ou seja, há um equilíbrio dinâmico que sempre vai até o limite, até à beira do colapso. Quando esse equilíbrio dinâmico se rompe, o colapso chega.

Todas as formas de vida vivem numa "guerra eterna" que gera um equilíbrio dinâmico entre todas elas. Quando uma delas (por exemplo, o Homo sappiens) consegue quebrar esse equilíbrio, ela começa a destruir as outras espécies, e continua a fazê-lo (por causa da húbris) até um nível tal que destrói as bases de sua própria sobrevivência, suicidando-se. Isso não aconteceria se o em si da vida e do mundo fosse algo racional; mas acontece, porque o em si é um impulso irracional jamais satisfeito. 


14/08/2021

É da natureza cognitiva dos razoabilistas olharem apenas para o que está iluminado, enquanto é da natureza cognitiva dos paranoicos olharem para as sombras e especularem sobre o que lá acontece. Ambos os lados são passíveis de conclusões precipitadas (em direções opostas). Se queremos chegar à Verdade, estamos sendo ingênuos em simplesmente acreditarmos num dos lados por viés cognitivo (por simplesmente termos uma simpatia por um dos lados em função de afinidades eletivas). Razoabilistas não são sinônimos de “verdade”, embora o nosso bom-senso gostaria de acreditar nisso e delegar a eles a tarefa de definir o que é e o que não é verdade. Bom se fosse fácil assim. Mas não, muitas vezes a verdade sobre certo assunto – ou pelo menos a disposição de tentar chegar a uma verdade – só é encontrada nos paranoicos.