12/10/2021
Estamos na Era dos Epílogos, a Era das consequências. Está tudo acabando:
O Brasil (destruição dos potenciais que o país teve para ser uma potência global; num prazo mais longo, possível desmembramento da nação em territórios menores);
O império estadunidense (do qual o Brasil é periferia);
O capitalismo;
A civilização;
A espécie humana;
A vida na Terra.
O papo de dizer que “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo” é fruto do wishful thinking marxista, que quer acreditar (desde a metade do século XIX) num futuro pós-capitalista para a civilização. Não vai acontecer. Não porque o capitalismo seja indestrutível, mas sim porque ele é tão destrutivo que, antes de acabar, consome e esgota a possibilidade de qualquer futuro para a humanidade. Não que "a culpa" seja exclusiva do capitalismo (outro viés típico do wishful thinking marxista); ele é um poderosíssimo catalisador, mas não o criador da destruição criativa suicida humana.
Como o próprio conceito de "desenvolvimento sustentável" deixa implícito, a sociedade atual (a que tem um "desenvolvimento insustentável", como todas as anteriores que colapsaram antes do capitalismo, aliás) vive (e lucra) de dilapidar seu próprio futuro. A máquina capitalista está vampirizando o futuro da espécie humana há muito tempo e com uma eficiência assustadora. Quando o capitalismo cair, já terá esgotado o futuro também. Os marxistas são utopistas ingênuos.
13/10/2021
Por que o campo fringe ainda é tolerado na internet?
* Não há um controle total, mas também não há um descontrole completo. Tenta-se controlar as variáveis-chave e os eventos-chave.
* Não dá para controlar tudo - não há condições técnicas para isso (ainda). E mesmo que houvesse, não é nem necessário nem econômico: gasta-se o que é necessário para se manter o sistema. O que ocorre no fim do livro "1984" é um exemplo de esforço de controle totalmente desnecessário e anti-econônico: um desperdício de recursos escassos.
* Tentar controlar tudo geraria uma ditadura explicita e isso seria contraproducente.
* Por questão de manter um nível mínimo e operacional de saúde, é preciso deixar espaços de respiro (como acontece numa panela de pressão) na sociedade e nas mentes das pessoas.
* O campo fringe é um campo de experimentos do qual podem sair conteúdos que serão depois repassados ao mainstream - é útil, dentro de certos limites, para o sistema.
* O campo fringe produz trabalho de inteligência gratuita para as agências de inteligência - é útil, dentro de certos limites, para o sistema.
* As narrativas fringe são toleradas e até estimuladas, desde que mantenham-se no campo fringe ou a transição para o mainstream seja devidamente controlada pelos administradores do sistema.
14/10/2021
Dúvidas epistemológicas:
* Como é o processo de construção da convicção?
* Como é o processo de construção da confiança epistemológica?
* Como é o processo de reprodução de uma convicção entre indivíduos, mediada pela confiança?
* Como são os processos, subjetivo e intersubjetivo, de criação de novas convicções a partir de convicções prévias e de novas convicções obtidas mediante as fontes nas quais os indivíduos confiam?
* Qual o método epistemológico para garantir o máximo de acurácia epistemológica a uma convicção?
* Quais os métodos para garantir o máximo de acurácia epistemológica a deduções e induções realizadas a partir de convicções de ótima acurácia epistemológica?
* Quais são e como funcionam os vieses que levam as pessoas a criarem e reproduzirem convicções de baixa acurácia epistemológica?
* Como fugir desses vieses?
* Como funciona o processo das pessoas acreditarem no que querem acreditar?
* Como escapar dessa armadilha ou ao menos monitorar quando se está caindo nela?
15/10/2021
Primeira regra geral: a qualidade epistemológica das convicções de uma pessoa tende a ser inversamente proporcional:
ao tempo que ela se dedicou a estudar o assunto;
à amplitude do assunto;
à profundidade do assunto;
à amplitude dos assuntos em relação aos quais a pessoa tem convicções;
à profundidade dos assuntos em relação aos quais a pessoa tem convicções.
Exemplo prático de aplicação:
Se uma pessoa de 25 anos que já escreveu 3 livros em língua não materna e que já fez mestrado e está fazendo doutorado (ambos fora do país onde ela nasceu) tem um modelo alternativo de universo (alternativo em relação ao que é ensinado pelo sistema educacional), e se os assuntos dos livros e das graduações acadêmicas da pessoa não estão ligados à fundamentação desse modelo alternativo de universo, a robustez epistemológica das convicções dessa pessoa a respeito desse modelo alternativo de universo é baixa. Para a pessoa, em tão pouco tempo, ter simplesmente descontraído tudo que ela aprendeu no ensino médio, ela só pode ter feito isso de maneira leviana, portanto com baixa robustez epistemológica.
Segundo exemplo prático de aplicação: Um produtor de conteúdo interpretativo, que trabalha diuturnamente produzindo conteúdo interpretativo para um público, uma bolha. Esse produtor terá muito pouco tempo, ou mesmo nenhum, para explorar conteúdos fora da bolha, o que gera vieses cognitivos nele mais fortes do que no próprio público, o qual, por só consumir o conteúdo, acaba tendo mais liberdade para transitar entre bolhas.
Segunda regra geral: Quanto mais especializada a pessoa em determinados assuntos, menos robustez epistemológica tendem a ter as conclusões dela sobre outros assuntos fora da especialidade.
Exemplo prático de aplicação:
No mesmo caso anterior, da pessoa de 25 anos, a graduação, o mestrado e o doutorado da pessoa não são nas áreas ligadas ao modelo de universo alternativo da pessoa, o que novamente aponta para a leviandade das convicções dela. Ela focou a sua inteligência metódica em outras áreas, e foi aprovada pelos pares da academia nessas outras áreas. Mas o modelo alternativo de universo dela não passou por um crivo rigoroso, nem dela (por falta de tempo), nem pela academia, nem pelos pares dela na subcultura desse modelo alternativo de universo.
O que vemos acontecer o tempo todo é, por efeito halo, a autoridade epistemológica que uma pessoa tem em sua área de especialização ser deslocada (por ela própria e pelo público dela) para áreas fora da especialidade dela. Em outras palavras: a pessoa é especialista em algo e por isso têm convicções com robustez epistemológica sobre esse algo; isso a torna uma autoridade para outras pessoas. Mas essa pessoa, embriagada pela vaidade da autoridade, passa a transferir esse poder de autoridade para áreas fora da especialidade dela, e o público dela tende a aceitar (ou mesmo a estimular) isso, sendo que nessas áreas fora da especialidade ela é tão leiga quanto o próprio público.
Terceira regra geral: A robustez epistemológica das convicções de uma pessoa sobre certo assunto tende a ser diretamente proporcional à robustez epistemológica das próprias fontes que a pessoa utilizou para formar essas convicções.
No exemplo da pessoa de 25 anos, enquanto os trabalhos acadêmicos dela têm uma robustez epistemológica validada pela academia, as convicções ligadas ao modelo alternativo de universo têm como fonte subculturas de internet e livros de “conhecimentos alternativos” (nas palavras da própria pessoa).
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Os cientificistas/racionalistas/razoabilistas focam sua atenção em assuntos mais facilmente exploráveis por uma maior robustez epistemológica e descartam como objetos do foco da sua atenção tudo que não se encaixa facilmente na condição de objeto de estudo dos métodos de maior robustez epistemológica. Enquanto os espiritualistas/irracionalistas/irrazoabilistas/paranoicos se aprofundam no estudo desses objetos de estudo, mas o fazem sem robustez epistemológica, e aí é fácil se perderem em fantasias. O que seria necessário é tentar estudar esses assuntos com a máxima robustez epistemológica, o que não é feito por nenhum dos lados.
16/10/2021
Existe um caminho com relativa robustez epistemológica para transitar do ceticismo clássico para o cientificismo, passando pelo empirismo. Mas esse caminho parece ignorar o quanto a ciência real, enquanto prática social concreta, está instrumentalizada pelo capital e pelo poder político e institucional. Parece que o típico cientificista deixa-se confundir muito facilmente por isso. Por exemplo, a NASA não é uma mera produtora de ciência e de tecnologia, é um órgão do complexo industrial militar do império transnacional estadunidense. Claro que ela produz conteúdo científico de qualidade, mas não se pode “engolir” toda produção de informação dela como sendo sinônimo de ciência, o que seria cair numa falácia de falsa equivalência.