quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

XXXVIII

 

12/12/2021


Uma vida humana de 90 anos tem apenas 2.838.240.000 de segundos. Para viver 8 bilhões de segundos (um para cada ser humano vivo no planeta), seria necessário viver 253,68 anos.


28/12/2021

As pessoas acreditam no que querem acreditar. Mas isso não quer dizer que todos estão igualmente enganados sobre tudo ao mesmo tempo. Mesmo todos estando movidos por vieses cognitivos, acaba acontecendo de, sobre uma questão em particular, uns estarem mais certos do que outros. É quase como aquela frase “até um relógio parado acerta pelo menos uma vez por dia” (duas vezes por dia se for um relógio de ponteiro), mas isso num caos semiótico com bilhões de relógios: em cada momento, há um grupo de relógios que está marcando a hora certa.


30/12/2021

Terceiro incluído.


"Bateson’s insight helps us see the unique meanings of wrestling. Everything

Dundes (1997) says about football and other ball sports applies in some ways to

wrestling, but wrestling distills the symbolism. In wrestling, there are no distancing,

mediating symbols; the male contact is as direct and as intimate as a sport can

get. For the wrestlers, but also (we think) for the observers, wrestling combines

primary and secondary processes. Put differently, wrestling both is and is not combat.

Wrestling both is and is not sex. It looks and feels like combat, and it looks

and feels like sex, but the peculiar, paradoxical genius of the wrestling play frame

is that it both is and is not either of these." ("Wrestling with Masculinity", Andrew Delfino & Jay Mechling, 2017)





01/01/2022

A condição humana


A exaptação negativa da lucidez gera consternação, espanto e dissonância cognitiva com o real. Junto com a imaginação, a consternação, o espanto e a dissonância cognitiva alimentam hipérboles do real: fantasias sobre versões alternativas melhoradas do real. Esse choque entre real e ideal (irreal melhor do que o real) leva a uma insatisfação com a vida e, essa, alimenta o desejo de morrer e enfraquece o desejo de viver.

O instinto de sobrevivência atua junto com a imaginação e, via wishful thinking, cria a convicção de que as hipérboles imaginadas são reais: surgem as fés anímica e mitológica num mundo transcendente, fés que depois, dogmatizadas e institucionalizadas, fundamentarão a crença religiosa, e que, depois, levadas para o domínio da política, se transformarão em utopia-ideologia política, e que, mais depois ainda, levadas para o domínio da indústria cultural, se transformarão em entretenimento.

Por meio dessa fé numa irrealidade, reconcilia-se o real com a consciência ferida pela insatisfação com esse mesmo real: o organismo persevera na vida, não pela vida em si (o real) mas pela imaginação de uma vida fictícia que transcende a vida real (ou seja, algo irreal, mas que se acredita real, ajuda o organismo a cumprir seu instinto de autoconservação e assim manter sua adesão ao real mesmo quando esse apresenta-se como insuficiente, e assim aderir às atividades autopoiéticas).

O organismo que consegue manter uma homeostase entre o real e o irreal persevera na adesão à sua própria autopoiese; o que não consegue, acaba por sucumbir ao suicídio pelas mais diversas formas possíveis, incluindo o suicídio em doses homeopáticas, geralmente cometido nos casos de distimia.


04/01/22

Quanto mais envelhecem, mais as pessoas se afundam em si mesmas, menos provável é que haja uma mudança expressiva em sua idiossincrasia. Muitas pessoas vão virando caricaturas. Conversões tendem acontecer basicamente se favorecem esse movimento de se afundar em si mesmo.

Com a saturação informacional e com a quantidade enorme de informação que cada subcultura produz, fica cada vez mais difícil sair de uma subcultura em particular e ir para outra.

Os sistemas (sejam os cérebros humanos, sejam as subculturas, seja uma civilização) vão progressivamente se fechando em si mesmos, e tudo que vem de fora passa por um filtro estruturado em torno da descrição que o sistema faz de si mesmo.

Enrijecimento, fechamento, afundamento, caricaturamento... e, por fim, a morte.


06/01/22

Se precisar resumir a minha posição na vida com algum/uns “ismo(s)” de maneira mais curta possível, seria a seguinte: um niilista passivo eudemonista. Não dá para dizer que sou apenas niilista passivo, e nem dá para dizer que sou apenas eudemonista. Eu adoto uma mistura de partes dos dois, irredutível a um ou a outro, mas sem adotar nenhum integralmente. As partes do meu ethos que não podem ser reduzidas a niilismo passivo, podem ser reduzidas a eudemonismo, e vice-versa. Talvez (eu teria que estudar mais para ter certeza) seja possível sintetizar esse niilismo passivo eudemonista como uma forma de cinismo.


A inutilidade da vida foi reconhecida no cinismo e, no entanto, ele ainda não se voltou contra a vida. Não: ali, muitas pequenas vitórias e uma língua solta satisfazem.” (Niehues-Pröbsting, “A recepção moderna do cinismo. Diógenes no Iluminismo.”)


07/01/22

Quando estaremos todos mortos?


Após cerca de 6 anos e meio acompanhando quase que diariamente a questão do "fim do mundo", tenho as seguintes estimativas a apresentar.

Primeiramente, há pelo menos cinco "fins do mundo":

1) O colapso da civilização/capitalismo global, com a inviabilização da vida da maioria dos humanos.

Mas ainda restaria um "mundo pós apocalíptico", formado pelos sobrevivencialistas, pelas pessoas nos bunkers, pelas agrupamentos humanos que até hoje não entraram em contato com a civilização e com uma massa de sobreviventes do colapso (o tamanho dessa massa depende do desenrolar do processo de colapso em si). Esse mundo pós apocalíptico, então, se arrastaria para o fim propriamente dito (o fim de "de fato" interessa para os humanos):

2) A extinção humana

Após a extinção humana, o planeta continuará a sofrer com as consequências dos processos que levaram à extinção humana, o que poderá levar a um terceiro fim do mundo:

3) A extinção de toda a vida na Terra

Mas ainda existiria a chance da vida acabar voltando à Terra. Para isso não acontecer, a própria Terra teria que acabar:

4) A destruição da Terra

Por fim, ignorando a provável existência de vida em outros planetas e pulando para o "último fim":

5) O fim do universo (provavelmente mediante a morte térmica)

Claro que provavelmente existem outros universos e até uma quantidade incalculável de multiversos, então mesmo o fim desse universo não seria o "último fim" necessariamente.

Focando nos dois primeiros fins: Não necessariamente é preciso levar décadas entre os dois. O colapso da civilização pode ser tão destrutivo que pode destruir em questão de meses ou poucos anos o habitat para o Homo sapiens. Uma vez o habitat destruído, a espécie está funcionalmente extinta, mesmo que ainda possam restar indivíduos (por exemplo, bilionários em superbunkers com estoque de mantimentos para algumas décadas). Mas também não sabemos se existem bunkers bons o bastante para proteger de todos os perigos possíveis (por exemplo, para proteger da radiação que será emanada pelos cerca de 500 reatores nucleares que ficarão sem a devida manutenção, além de todo o lixo nuclear que também ficará sem manutenção).

Bem, dada toda essa explicação e focando no primeiro fim (morte da maioria dos humanos), a probabilidade estimada por mim é:

30% de que ocorra entre 2022 e 2030;

60% que ocorra entre 2031 e 2060;

9,9% que ocorra entre 2061 e 2090;

99,9% de que ocorra até 2090.

Quanto à segunda definição (extinção humana, morte do último espécime humano), a probabilidade estimada é a seguinte:

15% de que ocorra entre 2025 e 2035;

50% de que ocorra entre 2036 e 2065;

30% de que ocorra entre 2066 e 2099;

4,9% de que ocorra entre 2100 e 2130;

99,9% de que ocorra até 2130.

(Obs.: Cabe salientar que, comparando-se com o que costuma-se acreditar na comunidade da Near Term Human Extinction, essas probabilidades são bem otimistas.)

Quanto à terceira definição, é possível que a destruição causada pelo Homo sapiens seja tão grande que de fato leve à perda do habitat para todas as formas de vida que atualmente ocupam o planeta. Mas como esse processo poderia levar até milhares de anos após a extinção humana para de fato se consumar, fica difícil fazer uma estimativa confiável o suficiente para ser mensurada em termos de datas e probabilidades.

Quanto à destruição da Terra e do Universo, há muitas estimativas realizadas pelos cosmologistas, em geral estando para acontecer daqui a bilhões de anos. Longe demais para eu me preocupar no momento.

"O Fim do Mundo — que alívio pensar nisso! No entanto, só podemos falar honestamente do Fim do Homem, que é previsível e até mesmo certo, enquanto o outro parece dificilmente concebível. Não vemos, com efeito, que sentido poderia haver em falar do fim da matéria; pois um fim tão distante não diz respeito a ninguém. Fiquemos nas proximidades do homem, onde o desastre faz parte da paisagem e do programa." (Emil Cioran, em "Cadernos: 1957–1972")

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