sexta-feira, 12 de abril de 2024

XLVIII

 

27/02/24

O poder diretivo do Estado

Nossos corpos têm a capacidade de se tornarem atléticos, sarados e saudáveis. Mas, dado o contexto social em que vivemos (de sedentarismo e alimentação ultraprocessada focada no sabor e não na nutrição), cada um de nós só consegue se tornar sarado com esforço, com disciplina e com planejamento, com hábitos que nos afastam da inércia na qual o contexto nos colocou.

O mesmo acontece com um sistema social e econômico, com um país. Ele tem o potencial para se tornar desenvolvido (tem o potencial para produzir muito valor para todas as pessoas que nele estão inseridas, melhorando a qualidade de vida de todos). Mas, para atingir esse potencial é preciso planejamento, organização, disciplina, hábitos não usuais que quebrem a inércia imposta pelo contexto da divisão internacional do trabalho presente no sistema socioeconômico mundial. E para tudo isso é preciso a força diretiva do Estado. 

Um Estado mínimo produz em termos econômicos algo semelhante ao que acontece com nossos corpos se desistimos da disciplina e passamos a comer o que é gostoso e a nos entregarmos ao sedentarismo, se cedemos à pressão social (sedentarismo e alimentação ultraprocessada focada no sabor) e à pressão biológica (lei do menor esforço, procura do prazer imediato). Se queremos desenvolvimento e riqueza, não adianta retirar o Estado da equação. Entregar sistema a si próprio apenas vai gerar uma hipertrofia da situação já existente (piora da desigualdade, empobrecimento dos mais pobres, encolhimento da classe média, desindustrialização, subordinação geoeconômica e geopolítica aos países hegemônicos, etc.).

Uma pessoa não é sarada e saudável por acaso, sem esforço, sem direcionamento, sem planejamento, sem coordenação. Igualmente, um país não é desenvolvido por acaso, sem esforço, sem direcionamento, sem planejamento, sem coordenação.


01/03/24

Me deem outro universo, e então eu procriarei

Há aquela frase famosa que diz que criamos filhos para a vida (ou para o mundo), não para nós. 

Então, eu não quero criar filhos para este mundo em que vivemos. Não quero colocar no mundo alguém para ser gado destas indústrias: financeira, do entretenimento, alimentícia, farmacêutica e religiosa. Não quero colocar no mundo alguém que vai passar a vida numa luta permanente pela sobrevivência e pelo conforto, ao custo da sua própria saúde.

Para eu conseguir criar alguém que está livre de tudo isso, além de ser multimilionário eu teria que ter acesso a um sistema educacional condizente com esses meus valores. E eu nem sei se esse sistema educacional existe mesmo para os ricos. Talvez não exista.

Teria que existir um movimento ideológico que reflita meus valores (“saúdiasmo”, em uma palavra), e esse movimento teria que ser humanista e laico (nada de estar ligado a uma religião – ou seja, a um sistema de mentiras), e esse movimento ideológico teria que manter escolas, e teria que ter mais de uma dessas escolas perto da minha casa, e as escolas teriam que cobrar um preço acessível para mim. Sem isso, eu e minha/meu esposa/esposo não conseguiríamos cultivar no/a(s) filho/a(s) os nossos valores. E eu não quero ter filho/a(s) para não conseguir reproduzir nele/a(s) os meus valores. Eu não vou fazer um trabalho voluntário para reproduzir um sistema social com o qual eu não concordo. Não vou criar filhos “para o mundo”, ao menos não para esse mundo em particular que aí está.

Ou seja, não vai acontecer.


03/03/24

Espiral descendente: autopoiese da Morte dentro da Vida

aumento da entropia interna -> enfraquecimento da sintropia do self -> ações autossabotadoras -> enfraquecimento da eficácia metabólica -> estresse alostático -> enfraquecimento físico e mental -> adoecimento físico e mental -> aumento da entropia interna


07/03/24

Como ainda respiramos esse ar que não tem aroma de tutti-frutti?

Nossos antepassados viveram milênios sem açúcar e sem os demais produtos comestíveis criados pela indústria alimentícia. Também viveram milênios sem a saturação interminável de distração produzida pela indústria do entretenimento. E eles sobreviveram a um mundo que para a maioria de nós seria insuportável - como suportar respirar sem guloseimas e sem entretenimento? A maior das ironias seria se um dia fosse possível provar que, apesar dessa insuportável restrição, eles foram mais felizes do que nós...



20/03/24

O que estamos fazendo com nossas vidas?




Quando foi que nos perdemos? Cristianismo, Racionalismo Iluminismo, Divisão do Trabalho, Capitalismo e Urbanização nos levaram a uma sociedade doente, que despreza o corpo e a vitalidade. Uma sociedade na qual não há o valor da vida, não há o valor do movimento, não há o valor do metabolismo, não há o valor da alostase. Uma sociedade na qual se perdeu o ideal do ser humano integral. Uma sociedade na qual o corpo foi reduzido a uma questão estética e erótica e, por isso, é desprezado ressentidamente pelos intelectuais e pseudointelectuais, pelos eruditos e pseudoeruditos. Eles ignoram que as funções cognitivas que eles tanto gostam de cultivar e das quais se orgulham dependem do funcionamento do corpo, e ignoram que um cérebro não tem como funcionar na sua máxima potencialidade estando preso a um corpo doente. Eles desprezam o corpo. Gostariam de ser um cérebro num pote de vidro.

É claro que existem fantasias e exageros em torno da utopia da saúde perfeita (intelectuais inclusive adoram estudar esse tema), mais isso não significa que deve-se pular para o extremo oposto e esquecer do corpo e da saúde em troca de prazeres imediatos (comportamento adotado pela maioria, inclusive pelos intelectuais e pelos eruditos).

A própria esquerda perdeu o valor da saúde (se é que um dia realmente foi comprometida com ele). O que mais tem é gente de esquerda que não está se esforçando o máximo possível para ser saudável. É como se o vilão capitalismo só existisse na esfera do trabalho (da exploração dos trabalhadores), mas não existisse na esfera do consumo. Essas pessoas querem acabar com o capitalismo e ao mesmo tempo estão tomando Coca-Cola! O problema não é o símbolo que é a Coca-Cola. O problema é que essas pessoas estão gastando frações da sua parca renda para consumir algo que piora a sua saúde, em troca de um prazer sensorial, e estão transferindo valor econômico para  uma mega-corporação. É a pura e simples exploração que eles tanto denunciam. Mas como há um prazer sensorial envolvido eles não se rebelam, não buscam expulsar essa relação de suas vidas. Sonham em acabar com o capitalismo para salvar a humanidade, mas são incapazes de fazer mudanças concretas nas suas vidas para melhorar a sua própria realidade. Quer algo menos materialista do que isso? Se perdem em ideias, fantasias, enquanto os seus corpos - materiais e concretos - adoecem dia após dia.

É irônico ver como esse pessoal de esquerda ignora a saúde e como ele tem raiva do discurso de desenvolvimento pessoal (em função desse discurso ser popular entre a direita) ao mesmo tempo em que se vêem como humanistas. O que tem de humanismo em dar as costas à saúde e não querer se desenvolver pessoalmente, não querer melhorar a cada dia? 

Já eu, que não me considero esquerdista, uso todas as ferramentas que estão disponíveis para tornar a minha vida melhor, venham de onde vier. Se a esquerda "humanista" não quer falar desses assuntos, então vou procurá-lo na direita.

Esses esquerdistas adoram culpar "o capitalismo" pela piora da qualidade de vida dos trabalhadores. Mas ignoram que esses mesmo tralhadores, dentro e fora do trabalho, sistematicamente deixam de adotar hábitos saudáveis e ao mesmo tempo adotam hábitos não saudáveis. Mesmo no espaço de ação que eles possuem eles escolhem o prazer imediato, e não a saúde. E daí, quando adoecem, a culpa é só dos seus trabalhos (é só dos patrões, do capital na esfera da produção), não das centenas de escolhas ruins que eles tomam diariamente e que poderiam não tomar se priorizassem as próprias saúdes. E sim, parte da culpa por essas escolhas é sim do próprio capitalismo - agora na esfera do consumo, não do trabalho. Mas a esquerda não quer ver isso, não quer demonizar os prazeres que escravizam as pessoas em troco de suas saúdes (e, portanto, de suas felicidades). 

É mais uma versão do clássico "quer mudar o mundo mas a pia está cheia de louça". Querem que "o sistema" mude, mas aquilo que eles têm poder de mudar em suas próprias vidas eles não fazem, são incapazes de defender e fortalecer os sistemas formados pelos seus próprios corpos e cérebros. Abdicam do poder concreto - mas humilde - de ação que de fato possuem e o trocam por um poder fantasioso, mas grandiloquente. 

Talvez a maior ironia seja ver a esquerda desprezando as tentativas corporativas e da autoajuda de melhorar a saúde das pessoas. Os empregadores querem trabalhadores com um maior estoque de saúde para explorar. Trabalhadores doentes e com o metabolismo avariado rendem menos. A esquerda, em vez de aproveitar essa coincidência para lutar por uma melhoria na qualidade de vida humana, está acomodada, com medo de questionar a multidão de prazeres fugazes e que consomem a saúde das pessoas dando lucro para as empresas. A esquerda reprova automaticamente o discurso por vir dos patrões e dos coaches. Descarta-o em bloco, e, assim, abandona um dos fronts da luta humanista.

A esquerda escolhe abdicar de usar toda a subcultura da saúde e do desenvolvimento pessoal como ferramenta para lutar por uma vida melhor, só porque boa parte dessa subcultura está, no momento, nas mãos de gente de direita. 


02/04/24

Sobre a geração Z no mercado de trabalho

O neoliberalismo - um sistema anti-humano - atuou destrutivamente dos dois lados desta relação, produzindo um paradoxo.

Do lado do mercado de trabalho, levou a vagas de trabalho (sequer dá para chamar elas de "empregos", de tão ruim que são) que hiperexploraram ao mesmo tempo que oferecem remunerações baixíssimas. É um retorno ao século XIX. São vagas de trabalho tão ruins que de fato é uma opção racional simplesmente se recusar a se submeter a elas.

Do lado dos trabalhadores, o neoliberalismo criou uma geração mimada, indisciplinada, distraída, perdida em intermináveis fantasias, ansiosa, psicologicamente incapaz de lidar com a frustração, doente física e mentalmente, uma geração de indivíduos que sequer conseguiram formar uma identidade pessoal, sequer sabem quem são. Uma geração que sequer possui um estoque de saúde e vitalidade para o mercado de trabalho consumir e destruir (como ele sempre vez).

O neoliberalismo sempre foi uma força destrutiva que destrói o futuro (o longo prazo) para maximizar o lucro imediato, do presente (o curto prazo). O problema é que ele já está fazendo isso há mais de 30 anos, e o futuro que ele destruiu está se tornando o nosso presente. A conta chegou. Ele - com sua inesgotável prática de externalizar os custos para assim produzir lucro imediato - produziu uma geração inteira inapta ao trabalho, ao mesmo tempo em que produziu vagas de trabalho insalubres.


11/04/24

Acredito que mais de 80% do quantitativo de doenças da população mundial poderia ser evitado se vivêssemos numa sociedade que preza pela saúde em vez de prezar pelo lucro de curto prazo e pelo prazer imediato.

XLVII

 

21/01/24

Sobre o filme Anatomia de uma Queda

Este filme é uma declaração de ódio às ciências forenses. No mundo real, o caso teria sido solucionado pela polícia mesmo se acontecesse no Brasil, e muito mais acontecendo na França.

Não é verossímil que uma morte tão simples como essa não possa ser solucionada.

 *Não é muito usual alguém - ainda mais um homem de 1 metro e 80 cm - cair desta altura e morrer. Estatisticamente, o mais provável é que tenha sido golpeado antes de cair.

*É procedimento padrão investigar todas as possibilidades. Neste caso, havia também as possibilidades de ser um acidente, de alguém ter invadido a casa e matado o homem, e até do filho ter matado o pai. O roteiro, para simplificar, decidiu descartar essas hipóteses.

*Luminol: nos dois principais cenários da casa (o sótão e a varanda) de uma possível agressão física que produziu a lesão na cabeça, gotas de sangue teriam sido deixadas. Mesmo se tivessem sido limpadas, o luminol e outras ferramentas forenses as teriam revelado. Então, daria para saber se ele foi golpeado dentro da casa ou não. Não faz sentido isso ficar em aberto, inconclusivo, no filme.

*Cenários para a formação da lesão na cabeça. Como ela teria sido produzida pela queda? Como ela teria sido produzida por agressão de uma outra pessoa? No caso de agressão, qual a provável ferramenta? As ciências forenses seriam capazes de responder a essas questões. Mas nada sobre isso é dito no filme.

*A questão do choque com o telhado: esse choque, se ocorreu, não deixaria marcas tanto no corpo quanto no telhado (de metal)? Um homem de 80 quilos não cai de 15 metros de altura em cima de uma chapa de metal sem deixar marcas tanto na chapa quando no próprio corpo dele.

Pelas informações que o filme dá, o correto seria realmente inocentar a Sandra, em função do princípio "in dubio pro reo". Mas não é verossímil que, em pleno 2023, a investigação policial não conseguiria produzir mais informações para a tomada de decisão qualificada pelos jurados.

Enfim, não é um filme realista. Seria mais realista se fosse um filme de época que se passasse no século XIX ou até antes, pois, aí, a investigação seria mais precária do que é hoje em dia.

O cinema é uma arte ilusionista, e a diretora desse filme conseguiu enganar o público, conseguiu fazer essa história sem pé nem cabeça soar verossímil. Mesmo se tratando de um filme para um público mais inteligente (não é um blockbuster para o grande público). Entendo o ponto filosófico, até foucaultiano ("A verdade e as formas jurídicas"), que ela quis trabalhar. Mas achei uma má execução, que exige demais da suspensão de descrença.

Ironicamente, não é realizada uma anatomia da queda. Nem do sentido literal - porque aí o filme seria um episódio de CSI -, nem no sentido metafórico, pois o foco do enredo não é a derrocada psicológica do homem morto (sua "queda"), mas a construção da verdade jurídica no tribunal. O personagem masculino é um coadjuvante, o filme não é sobre ele.

Comparem com o caso Isabela Nardoni, e notem, como já naquela época e ainda no Brasil, a investigação policial produziu muito mais informações qualificadas do que a investigação do mundo fictício mostrado no filme.


25/01/2024

Impotentes, bilionários aderem ao salve-se quem puder

Encastelados em seus palácios, os bilionários - os donos do mundo! - se confessam impotentes diante do colapso que está por vir, restando-lhes apenas tentar inventar uma forma de salvarem a si mesmos.

Como Marx já dizia no século XIX, todos são escravos do capital, inclusive os capitalistas, os burgueses. Na linguagem de hoje: inclusive os bilionários. O verdadeiro sujeito é o capital e a maquinaria que ele criou para se reproduzir cegamente enquanto tiver recursos para explorar - maquinaria essa da qual todas as pessoas (inclusive os bilionários) são meras engrenagens. Maquinaria essa que está consumindo os recursos e assim continuará até eles acabarem, assim como uma máquina qualquer movida a bateria continua a funcionar até a bateria acabar. É simples, irrespirávelmente e desesperadoramente simples...


Vídeo:


https://youtu.be/mWKRBF88V4c?si=Tuk1Jh5Fx9PX3JYY

Livro:

https://www.amazon.com.br/Survival-Richest-Escape-Fantasies-Billionaires/dp/0393881067


04/02/24

O Império das Doenças

No mundo atual, só consegue ser saudável (ou menos doente) quem prioriza a saúde e, em nome dessa prioridade, diz "não" ao desfile interminável de prazeres sob a forma de mercadorias que nos são empurrados diariamente. O valor da saúde se perdeu. "Mente sã em um corpo são" se perdeu. O que importa agora é uma sucessão sem fim de prazeres imediatos (todos lucrativos para as corporações que os oferecem). O normal se tornou o patológico. Ninguém é saudável por acaso.

A única forma de ter uma saúde acima da média é cultivando, de forma acima da média, hábitos saudáveis. Hábitos de saúde mediocres levarão a uma saúde medíocre, ou seja, a uma coleção de doenças e de medicamentos que aumentam a cada ano.



17/02/24

O falso, e medíocre, equilíbrio

As pessoas costumam falar em "equilíbrio" e "moderação" em relação ao consumo de todos esses produtos alimentares. Pensam em reduzir o consumo de ultraprocessados, de açúcares, gorduras, sal, farinha de trigo, frituras, corantes, conservantes, etc, etc. E também pensam que só precisam aumentar mais um pouco os alimentos de qualidade que consomem. O problema é que elas usam como referência para o cálculo deste equilíbrio os padrões alimentares aberrantes atuais. São incapazes de imaginar toda a história da indústria alimentar, desde a criação daquele pó branco (açúcar refiando) no final do século XVIII. Daí acontece que, mesmo elas achando que estão sendo equilibradas, elas estão muito longe da alimentação ideal. O mesmo acontece com outros hábitos não saudáveis, como o consumo de entretenimento, por exemplo. A humanidade viveu milênios sem a indústria do entretenimento, mas hoje em dia as pessoas acham que já estão sendo moderadas se gastam “apenas” três horas por dia consumindo entretenimento. Quem pensa nesses termos históricos mais longos e quer retomar padrões de qualidade mais antigos em vez de se contentar com esses supostos equilíbrios acomodativos, é acusado de fanático, extremista, terrorista, de ortoréxico.


23/02/24

Por que não tenho filhos

Não sou um antinatalista, não parto de um julgamento ético sobre a responsabilidade de reproduzir ou não o sofrimento no mundo.

Por que não tenho filho(s) (resposta sintética): dados o mundo e o país atuais, dada a minha posição na divisão social do trabalho e dada a minha personalidade, avalio que para mim a relação custo-benefício é desfavorável.

Essa avaliação é uma estimativa, que só poderia ser confirmada ou refutada se eu tivesse filho(s). Mas também é verdade que se eu tivesse haveria um viés para eu me autoenganar acreditando que foi melhor ter tido (pois seria muito duro viver diariamente com a convicção de que se cometeu um terrível e irreversível erro).

Se a sociedade for colapsar porque muita gente está pensando como eu, lamento. O mundo que mude. Os bilionários e os políticos que façam alguma coisa (supondo que tenham poder para fazer...). Nós aqui embaixo só estamos respondendo aos incentivos que o sistema nos dá. E ele está dando incentivos para nós não termos filhos.

A queda na taxa de natalidade JÁ É FRUTO DO COLAPSO que está acontecendo. Os altos custos de vida já são fruto do colapso ambiental. 

Mas esse colapso está se desenrolando há décadas e ainda vai levar muitas mais décadas até que aconteça a situação que as pessoas usualmente entendem por colapso. O colapso já está acontecendo, mas em câmera lenta, ao longo de gerações



27/02/24

Sobre debates intermináveis acerca da existência de Deus

Estamos há milênios nesta cacofonia nababesca para tentar provar um suposto ser - o Ser por excelência, aliás - que, se quisesse, poderia se revelar de forma inquestionável para todos nós. Mas não quer. Ou não existe. É diferente, por exemplo, de físicos discutindo a mecânica quântica, ou quaisquer especialistas de uma área de estudo discutindo tecnicalidades. Pois eles estão tentando conhecer a natureza, que é inanimada, que não é um ser dotado de consciência e vontade (muito menos o Ser por excelência). Esse Ser ou não existe ou não se importa conosco, ou mesmo está contra nós (somos uma fazenda de formigas, ou uma plantação, alguma coisa que ele cultiva para alguma finalidade instrumental, ou mesmo somos organelas das bactérias do intestino dele). O mais provável (respeitando a Navalha de Ockhan) é que não exista, e que alguns de nós insistam em negar as evidências pois estão emocionalmente ligados a essa crença desde a primeira infância (quando receberam forte educação religiosa da família e/ou dos profissionais da religião - trabalhadores cujo objetivo é reproduzir a fé na cabeça dos outros)... Se ele existisse, ele seria um fato evidente, e discussões não seriam necessárias, muito menos discussões intermináveis.

Evidência EXISTENCIAL seria ele existir assim como uma pessoa famosa existe, assim como a cidade de New York existe. Nós não precisamos ficar discutindo se New York existe ou se Trump existe. Há evidência de que existem. É como acontece nas histórias de fantasia que inventamos (por exemplo, Harry Potter ou Senhor dos Anéis): há seres com poderes sobrenaturais, geralmente há vida após a morte. E há de uma forma inequívoca, como um fato social. Não há necessidade de ficar discutindo algo cuja existência se impõe, está evidenciada por si mesma.