28/09/2017
Existem
sistemas de organização social menos ruins do que
outros – no sentido de que esses menos ruins conseguem realizar uma
gestão mais efetiva, salutar, do material humano e de sua interação
com a natureza. Mas todas as formas de organização social são
essencialmente ruins e fracassadas, pelo simples motivo de que estão
lidando com algo essencialmente ruim e fracassado: o ser humano em
particular e a vida em geral. Alguns utopistas, portanto,
estão parcialmente certos: seus esforços de
melhoria da condição humana até geram algum resultado apreciável
– mas efêmero e muito aquém do que é o prometido (a saber, uma
cura para a condição humana). Será que os utopistas se dariam aos
esforços que se dão se acreditassem que os frutos de suas
atividades são meros paliativos diante de uma condição humana
constitutivamente incurável? Da minha parte, decido solenemente
ignorar essas discussões políticas, ideológicas, ontológicas,
deontológicas, e decido focar no meu bem-estar – niilismo
eudemonista.
30/04/2018
2008:
as coisas começaram a mais piorar do que melhorar no mundo.
2013:
as coisas começaram a mais piorar do que melhorar no Brasil.
2015:
começou a ficar inviável para mim imaginar a minha vida melhorando
(como cenário de futuro, a sexta extinção substituiu a
singularidade tecnológica).
2018:
pós reforma trabalhista, a minha vida começou a piorar de fato com
o fim (em setembro) do Acordo Coletivo de Trabalho assinado em 2016.
[Escrito
em 19/12/19: no segundo semestre de 2020 vai vencer o atual ACT, e
agora a perspectiva é a cada ACT as coisas ficarem piores.]
22/05/2018
As
pessoas que alegam estar buscando o “sentido da vida” (ou mesmo o
“autoconhecimento”) em geral são pessoas que subjetivamente já
se comprometeram com o “Sim” (com a afirmação do querer-viver,
com a agência da autopoiese), mas que ainda não arranjaram uma
metanarrativa que seja-lhes suficiente – ou seja, que consiga de
forma satisfatória abafar-lhes o mal estar fruto da exaptação
negativa da lucidez. Enquanto ardil dos instintos de autopreservação
para burlar a exaptação negativa da lucidez, o mais importante
nessas buscas não é o resultado final, mas a trajetória – a
busca, a espera(nça) que mantém a pessoa agarrada à vida enquanto
acredita que superará a exaptação negativa de lucidez: é o velho
esquema da “cenoura do cavalo”, do objeto a que mantém o
movimento de adesão por meio da promessa da satisfação. Mesmo que
essa busca se apresente travestida de “expansão da consciência”
ela é na verdade um esforço em fugir da exaptação negativa da
lucidez (a qual existe justamente devido a um excesso de consciência
em relação à animalidade desprovida de metacognição).
Para
mim, que desde antes de conhecer Schopenhauer já estava seduzido
pelo “Não” (e que na melhor nas hipóteses consigo chegar a uma
indiferença entre o "Sim" e o "Não"), essa
busca de “sentido para a vida” nunca fez... sentido.
*
Se
o mundo não está nem aí para mim, porque eu tenho que me importar
com ele? De onde sai o imperativo, Nietzsche? Se eu sou uma mera
engrenagem em uma máquina omnicida, por que ainda por cima tenho que
me sentir grato? Não que eu seja contra quem se sente grato – cada
um que faça com sua vida o que quiser... Mas eu não quero
agradecer, pouco importa qual seja a chantagem emocional que inventem
os que não toleram a existência de gente como eu.
13/06/2018
O
pensamento desejante não necessariamente atrapalha o conhecimento.
Aliás, em algumas situações pode ajudá-lo: nessas situações, é
graças a ele que a pessoa nota detalhes e foca a atenção em pontos
que as outras pessoas não notam ou não dão a devida atenção. Às
vezes é uma forçada “razoabilidade” ou “imparcialidade” que
acaba gerando um viés cognitivo, e não o pensamento desejante (essa
forçação não deixa também ela de ter uma origem volitiva, num
bom-mocismo ingênuo). Epistemologicamente, isso apenas complica
ainda mais as coisas...
24/06/2018
Vendo
"Voyage of time".
Quando
a mente foca em grandes escalas no tempo e no espaço, há a sensação
de sublime, cujo prazer é fruto do esquecimento de si e de seus
sofrimentos. Esse prazer, associado ao pensamento mágico/animista,
gera uma ilusão cognitiva de "intuição" da "alma"
do mundo e/ou do suposto Ser que o criou. Mas não há Ser ou "alma"
alguma, apenas o desdobramento incessante da atividade das forças
físicas e um sistema nervoso limitado que os observa (e que não
evoluiu para essa observação, portanto não está apto a isso).
07/07/2018
Não
acredito que a humanidade dure mais cem anos. E mesmo que acreditasse
que ela pode durar mais alguns milênios, não acredito que irá
progredir (no sentido de solucionar os paradoxos que a animam pelo
menos desde o início da civilização). E mesmo que, como os
tranhumanistas e outros utopistas, acreditasse que ela está
predestinada à grandeza (e mesmo à divindade), por que deveria
sacrificar meu bem estar imediato em nome de um futuro do qual não
usufruirei?
05/09/2018
A
essa altura da História (a altura da sua agonia derradeira) todas as
causas são causas perdidas – exceto a causa da aceleração da
vindoura catástrofe final.
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