sábado, 30 de dezembro de 2023

XLV

 20/05/23

Eu aceito tudo.

"Escolha suas batalhas". Eu escolho cuidar de mim, da minha saúde (física, mental e financeira). E só essa prioridade já consome mais recursos que eu tenho. Quanto ao futuro político do mundo e do Brasil, eu aceito tudo: do Ancapistão à ditadura do Partido Comunista Chinês, do Império Trans à Teocracia, do Evangelistão do Pó ao Socialismo Bolivariano, do Império Anglosionista à Quarta Teoria Política. Aceito tudo, adapto-me a tudo. Não tenho com o que me preocupar. Tudo é possível e todos têm razão.


01/06/23

A vida (tao): autopoiese (yang) da sintropia (yin) de sistemas proteicos complexos.


15/08/23

O custo da ignorância.

Quanto mais o mundo vai se fechando numa grande máquina burocrática cheia de regras e de golpistas em busca de trouxas para explorar, eu acredito que cada vez menos é verdade aquele chavão que diz que “a ignorância é uma benção”. De fato existe um tipo de conhecimento que atrapalha a vida, a respeito do qual é melhor ser ignorante, mas paga-se um alto preço pela ignorância a respeito de uma série cada vez maior de conhecimentos prático necessários para ter uma vida o menos ruim possível nesta distopia.


29/08/23

O problema não é a burrice e a ignorância, mas a arrogância. Se as pessoas tivessem a humildade de admitir sua não qualificação para decidir, e se deixassem a decisão para os especialistas de cada assunto, o mundo seria menos ruim do que é. Essa arrogância está dentro do que Greene chama de Lei da Grandiosidade (11a Lei da Natureza Humana), e está dentro da pressa de concluir que Cioran denuncia.


24/10/23

A vida é tão dura e limitada no espaço e no tempo. Precisamos despender um esforço enorme e contínuo para simplesmente termos bons resultados nas dimensões mais básicas das nossas vidas: termos saúde (mental, física e financeira), segurança, bons relacionamentos, conforto e dignidade. Se escolhemos ter filho(s), então, o esforço é ainda maior, pois temos que prover tudo isso para ele(s) e ainda temos a responsabilidade moral de educá-lo(s) para ter(em) condições de ser(em) a(s) melhor(es) versão/ões dele(s) mesmo(s).

Quanto mais escolhemos nos distrair com fantasias (entretenimentos, infotenimentos, turismo intelectual, dilentantismos, drogas químicas e semióticas, ideologias, utopias, doutrinas, esoterismos), mais dificultamos as nossas próprias vidas, pois estamos escolhendo desperdiçar os nossos recursos escassos (tempo, dinheiro, energia, foco, paciência, processamento cerebral, etc.) com atividades que não apenas não contribuem como até atrapalham essas dimensões mais básicas de nossas vidas.

E quanto pior estão essas dimensões mais básicas das nossas vidas, mais sedutoras nos soam essas fantasias, pois mais desagradável está a nossa vida de fato. Mas quanto mais fugimos da realidade pior ela fica, não apenas porque não estamos trabalhando o máximo possível para melhorá-la, mas também pelo puro e simples contraste dela com as fantasias: o mundo real e a nossa vida real ficam cada vez mais insuportáveis, e nos afundamos num processo suicídico, mesmo que se arraste por décadas.

São hábitos. Se focamos pragmaticamente na vida, adiando a gratificação, teremos melhores resultados nela, o que a tornará melhor. Se focamos irresponsavelmente nas fantasias, no prazer imediato oferecido pelos onipresentes vendedores capitalistas, estamos fortalecendo as fantasias em nossos cérebros e enfraquecendo a realidade, ficando, portanto, menos aptos a (sobre)vivermos nela.

Claro que a distração, a diversão e o ócio têm um papel na saúde mental, mas o semiocapitalismo os caricaturizou e os transformou em drogas ao ponto de que perdemos a noção do que seria moderação, assim como a indústria alimentar fez com o açúcar, com o sal e com a gordura. Como sempre no capitalismo, viramos mero instrumentos para a realização do lucro, consumidores para as mercadorias produzidas e que precisam ser vendidas e consumidas a todo custo, para fazer a máquina girar. A "era da informação" não poderia, sob o capitalismo, virar outra coisa que não a era das drogas informacionais: como os capitalistas, assim que tivessem as condições tecnológicas para fazê-lo, iriam se abster de explorar as fraquezas humanas em troca do lucro fácil? Não precisam de nenhuma conspiração diabólica e de longo prazo para os estimular, pois os lucros trimestrais são estímulos mais do que suficientes. Que culpa o capitalismo tem que os lucros são mais rápidos e fáceis explorando-se em massa os pontos fracos da natureza humana? Se os lucros fossem mais fáceis explorando-se em massa os pontos fortes, o capitalismo faria isso. Mas não são. Pensando em termos das neurociências, os pontos fracos estão associados ao sistema rápido (instintivo), enquanto os pontos fortes estão ligados ao sistema lento (racional). Explorar (instrumentalizar) o sistema rápido permite uma aceleração do ciclo de produção, venda e consumo das mercadorias, acelerando o ciclo de autovalorização do capital. Embora seja possível lucrar com o sistema lento  e o capitalismo lucra com ele , o volume e a velocidade são menores do que os que se consegue explorando o sistema rápido. Não é necessária nenhuma conspiração maligna para levar a isso, nenhum plano de extermínio em câmera lenta do gado humano ao longo de décadas ou séculos.

Decisões fáceis (dizer sim aos prazeres imediatos oferecidos pelos vendedores no capitalismo), vida difícil (corrosão suicida da saúde física, da saúde mental, da saúde financeira, da qualidade dos relacionamentos, da segurança, do conforto, da dignidade); decisões difíceis (dizer não às fantasias e focar pragmaticamente em aprimorar diuturnamente a própria vida), vida fácil, ou, ao menos, vida menos difícil (mais saúde física, mais saúde mental, mais saúde financeira, melhores relacionamentos, mais segurança, mais conforto, mais dignidade). 


26/10/23

No mundo atual, para tentar reduzir os danos que o trabalho assalariado causa à saúde é preciso ter uma vida estoica e espartana. Mas para isso é preciso dizer não aos sonhos de consumo da insiderness de classe média: as viagens, os carros, os imóveis, os jantares, os pets, os filhos... Para eliminar esses danos, só atingindo a liberdade financeira.

Mas esses insiders iludidos, aceitam, sem perceber, acabar com suas saúdes em busca de dinheiro para comprar ou alugar insígnias de status.


27/10/23

Para se dar bem na vida, não adianta ser apenas inteligente. É preciso saber aplicar a inteligência nos assuntos certos, ou seja, de forma eficaz. E para isso é preciso aplicar a inteligência ao próprio processo decisório tomado sobre onde aplicar a inteligência.

Como há muito mais conhecimento no mundo do que alguém, por mais inteligente que seja, consiga absorver, invariavelmente qualquer pessoa, mesmo se muito inteligente, vai ser especialista em alguns assuntos e nos demais será medíocre ou até abaixo da mediocridade.

O problema é que muita gente inteligente não aplica a inteligência para escolher de forma otimizada os assuntos nos quais aplicará a própria inteligência. Os assuntos são escolhidos por moda, por vaidade, por status, por pressão do grupo, por afinidades eletivas, pela influência de pessoas próximas, pela sedução dos vendedores onipresentes no capitalismo, etc. Aí essas pessoas inteligentes  que demonstram sua inteligência dominando os conhecimentos nos quais focaram a inteligência  acabam vivendo vidas erráticas e desastradas, pois não decidiram buscar uma sabedoria de vida, ou ao menos um pensamento gerencial (estratégico, pragmático) a respeito da própria vida. São pessoas inteligentes tomando decisões não inteligentes a respeito de aspectos cruciais das suas próprias vidas.

Isso é muito comum em insiders (a maioria das pessoas), que não ousam questionar as convenções sociais e aí se sacrificam nas muitas armadilhas da vida mainstream, e também é muito comum em autistas (muitos dos quais são insiders), cujos hiperfocos (geralmente formados na infância ou na adolescência) quase sempre são fúteis, inúteis e desconectados da cotidianidade da qual, na verdade, eles (autistas) querem até mesmo fugir. E, ainda, é muito comum nas gerações a partir da Y, afogadas num oceano sem fim de entretenimento.


Note que tudo o que foi escrito acima está dentro do que os coaches esotéricos descrevem criticamente como "pensamento de escassez". Eles defendem o oposto, o "pensamento da abundância" (baseado na infante e infame Lei da Atração). Além desse pensamento da abundância cumprir a 32a Lei do Poder ("Desperte a Fantasia das Pessoas"), ele, uma vez transformado em verdade na cabeça dos clientes desses coaches, cria a base para justificar os preços exorbitantes do cursos e produtos que os próprios coaches vendem para os clientes. De forma semelhante, pastores da teologia da prosperidade convencem seus rebanhos a entregarem vultosas quantidades de dinheiro (incluindo carros e imóveis) para "Deus", em troca da promessa de que quanto maior o sacrifício maior será a recompensa. São diferentes segmentações do Mercado da Picaretagem, o qual trabalha com a exploração do pensamento mágico.

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