sábado, 6 de maio de 2017

IV

29/09/2016

A título de "rudimento de pesquisa empírica": se vc digitar "Nietzsche" no catálogo do Estante Virtual aparecem 8373 títulos. Se digitar "Schopenhauer" aparecem 1446 (17,27% do de Nietzsche). Se digitar "Cioran" aparecem 107 (1,28% do de Nietzsche). Eu, particularmente, me identifico muito mais com Cioran do que com Schopenhauer, e muito mais com Schopenhauer do que Nietzsche. Esses número indicam que a identificação do "mercado literário-filosófico" no Brasil é inversa a minha. Há uma curva exponencial separando a popularidade desses 3 pensadores.

Se fizer a mesma pesquisa na Livraria Cultura, dá: N=2016, S=864 (42,86% de N) e C=144 (7,94% de N).

30/09/2016


Uma utopia global demanda a produção de transhumanos (de um tipo específico: manipulados geneticamente para superar os paradoxos humanos). Só que para aplicarmos a biotecnologia em seres humanos, precisamos AUMENTAR a reificação dos seres humanos em relação ao nível de reificação aceitável na hegemonia ideológica atual. Ocorre que, do ponto de vista político, uma utopia planetária demanda uma DIMINUIÇÃO desse mesmo nível de reificação. Assim, a reificação teria que aumentar para permitir a reengenharia da natureza humana e simultaneamente para permitir a construção de uma democracia global. Ou, teria que primeiro aumentar, viabilizando o uso de biotecnologias em humanos e depois que os ditos transhumanos surgissem aí teria que diminuir para níveis inferiores aos atuais. E todo esse processo teria que ocorrer ao mesmo tempo que construímos com a natureza uma homeostase sustentável: a civilização teria que sobreviver a esse aumento da reificação, teria que superá-lo e a própria natureza que exploramos teria que agüentar uma exploração adicional decorrente desse recrudescimento da reificação. Tudo isso parece bemmmm improvável.

Se o progresso tecnológico continuasse e resolvesse a crise ambiental – o que eu não acredito ser possível, pois já passamos do ponto de não retorno ou estamos muito perto de passá-lo –, cedo ou tarde chegaria o dia no qual qualquer adolescente teria o poder de fazer, em sua casa, nanobots cuja autopoiese fosse um fim em si mesmo, e assim destruiria toda vida na Terra, pois esses nanobots se replicariam até destruir tudo (ou até liberar o metal derretido que está abaixo da superfície, o que mataria eles próprios). É fácil notar que não só a nossa extinção é tautológica, mas também o é a nossa auto-extinção.

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Goku não morreu para nos salvar. A “Terra” que ele salvou e salva repetidas vezes tem tão pouco a ver com a nossa que talvez ela seja uma versão do que a nossa seria daqui uns 20.000 anos se as coisas “terminarem bem” (o que eu não acredito que acontecerá). Apenas alguns pontos em comum, como a presença de seres humanos (especificamente Homo sapiens, que que no desenho há humanos de outras espécies, incluso o rei do governo mundial – que é um cachorro azul humanóide) e aspectos culinários da cultura japonesa (além do clima de seriado adolescente estadunidense que aparece quando Gohan freqüenta uma high school), podem ser usados para indicar que se trata do mesmo planeta que o nosso (seja no futuro, seja em um universo paralelo). Por falar em universo, fica claro em vários episódios que no universo do desenho não existe a impossibilidade de corpos massivos viajarem mais rápido do que a luz. Será que Goku se disporia a salvar a nossa Terra e o nosso universo se realmente vivesse neles?

O retrato ideológico que Dragon Ball Super faz da humanidade – no qual um deus enfurecido (Zamazu) com o uso que os humanos fazem do conhecimento decide destruí-los – é o exato oposto de nossa verdadeira condição: usamos o conhecimento para nos matar e somente uma intervenção divina poderia nos salvar de nós mesmos.

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