29/09/2016
A título de
"rudimento de pesquisa empírica": se vc digitar "Nietzsche"
no catálogo do Estante Virtual aparecem 8373 títulos. Se digitar
"Schopenhauer" aparecem 1446 (17,27% do de Nietzsche). Se digitar
"Cioran" aparecem 107 (1,28% do de Nietzsche). Eu, particularmente,
me identifico muito mais com Cioran do que com Schopenhauer, e muito mais com
Schopenhauer do que Nietzsche. Esses número indicam que a identificação do
"mercado literário-filosófico" no Brasil é inversa a minha. Há uma
curva exponencial separando a popularidade desses 3 pensadores.
Se fizer a mesma
pesquisa na Livraria Cultura, dá: N=2016, S=864 (42,86% de N) e C=144 (7,94% de
N).
30/09/2016
Uma utopia global
demanda a produção de transhumanos (de um tipo específico: manipulados
geneticamente para superar os paradoxos humanos). Só que para aplicarmos a
biotecnologia em seres humanos, precisamos AUMENTAR a reificação dos seres
humanos em relação ao nível de reificação aceitável na hegemonia ideológica
atual. Ocorre que, do ponto de vista político, uma utopia planetária demanda
uma DIMINUIÇÃO desse mesmo nível de reificação. Assim, a reificação teria que
aumentar para permitir a reengenharia da natureza humana e simultaneamente para
permitir a construção de uma democracia global. Ou, teria que primeiro
aumentar, viabilizando o uso de biotecnologias em humanos e depois que os ditos
transhumanos surgissem aí teria que diminuir para níveis inferiores aos atuais.
E todo esse processo teria que ocorrer ao mesmo tempo que construímos com a
natureza uma homeostase sustentável: a civilização teria que sobreviver a esse
aumento da reificação, teria que superá-lo e a própria natureza que exploramos
teria que agüentar uma exploração adicional decorrente desse recrudescimento da
reificação. Tudo isso parece bemmmm improvável.
Se o progresso
tecnológico continuasse e resolvesse a crise ambiental – o que eu não acredito
ser possível, pois já passamos do ponto de não retorno ou estamos muito perto
de passá-lo –, cedo ou tarde chegaria o dia no qual qualquer adolescente teria
o poder de fazer, em sua casa, nanobots cuja autopoiese fosse um fim em si
mesmo, e assim destruiria toda vida na Terra, pois esses nanobots se
replicariam até destruir tudo (ou até liberar o metal derretido que está abaixo
da superfície, o que mataria eles próprios). É fácil notar que não só a nossa
extinção é tautológica, mas também o é a nossa auto-extinção.
*
Goku não morreu
para nos salvar. A “Terra” que ele salvou e salva repetidas vezes tem tão pouco
a ver com a nossa que talvez ela seja uma versão do que a nossa seria daqui uns
20.000 anos se as coisas “terminarem bem” (o que eu não acredito que
acontecerá). Apenas alguns pontos em comum, como a presença de seres humanos
(especificamente Homo sapiens, que que no desenho há humanos de outras
espécies, incluso o rei do governo mundial – que é um cachorro azul humanóide)
e aspectos culinários da cultura japonesa (além do clima de seriado adolescente
estadunidense que aparece quando Gohan freqüenta uma high school), podem ser
usados para indicar que se trata do mesmo planeta que o nosso (seja no futuro,
seja em um universo paralelo). Por falar em universo, fica claro em vários
episódios que no universo do desenho não existe a impossibilidade de corpos
massivos viajarem mais rápido do que a luz. Será que Goku se disporia a salvar
a nossa Terra e o nosso universo se realmente vivesse neles?
O retrato
ideológico que Dragon Ball Super faz da humanidade – no qual um deus enfurecido
(Zamazu) com o uso que os humanos fazem do conhecimento decide destruí-los – é
o exato oposto de nossa verdadeira condição: usamos o conhecimento para nos
matar e somente uma intervenção divina poderia nos salvar de nós mesmos.
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