sábado, 6 de maio de 2017

VII

25/10/2016

Tanto o “despertar” dos trabalhos de Gurdjieff quanto a não-violência da CNV implicam em uma lentidão responsiva, a qual é consequência direta da tentativa de tornar consciente conteúdos inconscientes, o que apenas pode se dar por processamento cerebral consciente adicional em relação ao que se faz usualmente em nossa sociedade. Assim, esse despertar e essa não-violência são disfuncionais por excelência com a dinâmica de nossa sociedade – só quem vive à margem dela pode se dar ao luxo de mergulhar nessas práticas (que, em última instância, não cumprem com as vagas promessas que vazem). Aliás, deixar as promessas vagas é essencial para grupos esotéricos – é nesse espaço indefinido que cada um inventa as expectativas que lhe convém, só para descobrir, depois de muita dedicação, que essas expectativas nunca se realizarão (mas aí a pessoa já se esforçou tanto pela causa que prefere continuar aderida a ela). No caso do Gurdjieff, por exemplo, ele nunca respondeu se existe ou não reencarnação. Isso quer dizer que as pessoas devem se sacrificar pela causa do “despertar” sem nem saberem exatamente para que ela serve: serve para sair do ciclo de reencarnação? Serve para ir para um outro nível da realidade no pós-morte? Gurdijieff recusa-se a dar essa resposta – e seus seguidores aceitam.

26/10/2016

A ontologia é o caminho para contornar a inesgotabilidade fenomenológica e o flooding informacional de notícias e obras culturais: se eu já tenho uma ontologia que explica as linhas gerais de todos esses casos particulares, não sinto necessidade de neles mergulhar para tentar entendê-los, e assim eles se tornam redundantes.

Hipótese: é justamente a minha fixação pela ontologia (a qual, por exemplo, determina o meu desprezo em ler literatura) que, dando conta da polissemia fenomenológica, permite-me resolver os meus problemas existenciais, enquanto assisto os demais andarem em círculos em torno dos seus. 


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