Tanto o
“despertar” dos trabalhos de Gurdjieff quanto a não-violência da CNV implicam
em uma lentidão responsiva, a qual é consequência direta da tentativa de tornar
consciente conteúdos inconscientes, o que apenas pode se dar por processamento
cerebral consciente adicional em relação ao que se faz usualmente em nossa
sociedade. Assim, esse despertar e essa não-violência são disfuncionais por
excelência com a dinâmica de nossa sociedade – só quem vive à margem dela pode
se dar ao luxo de mergulhar nessas práticas (que, em última instância, não
cumprem com as vagas promessas que vazem). Aliás, deixar as promessas vagas é
essencial para grupos esotéricos – é nesse espaço indefinido que cada um
inventa as expectativas que lhe convém, só para descobrir, depois de muita
dedicação, que essas expectativas nunca se realizarão (mas aí a pessoa já se
esforçou tanto pela causa que prefere continuar aderida a ela). No caso do
Gurdjieff, por exemplo, ele nunca respondeu se existe ou não reencarnação. Isso
quer dizer que as pessoas devem se sacrificar pela causa do “despertar” sem nem
saberem exatamente para que ela serve: serve para sair do ciclo de
reencarnação? Serve para ir para um outro nível da realidade no pós-morte?
Gurdijieff recusa-se a dar essa resposta – e seus seguidores aceitam.
26/10/2016
A ontologia é o
caminho para contornar a inesgotabilidade fenomenológica e o flooding
informacional de notícias e obras culturais: se eu já tenho uma ontologia que
explica as linhas gerais de todos esses casos particulares, não sinto
necessidade de neles mergulhar para tentar entendê-los, e assim eles se tornam
redundantes.
Hipótese: é
justamente a minha fixação pela ontologia (a qual, por exemplo, determina o meu
desprezo em ler literatura) que, dando conta da polissemia fenomenológica,
permite-me resolver os meus problemas existenciais, enquanto assisto os demais
andarem em círculos em torno dos seus.
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