quinta-feira, 18 de maio de 2017

XVIII

08/05/2017

Como espécie, não teremos sequer o luxo de uma morte digna, tal à qual almejam os utopistas do Movimento pela Extinção Humana Voluntária.


09/05/2017

A humanidade fará de tudo para ter o direito de destruir outro planeta. Mas se ela já fracassou nesse planeta tão acolhedor onde nasceu, o que dirá em outros nos quais só conseguirá sobreviver mediante engenharias planetárias, genéticas, entre outras.

*

Coleção de bordões que eu tive desde 2006:

Toda vida é sofrimento.
Não vim ao mundo a trabalho, mas sim a passeio.
Não é a pobreza que causa a dor, mas sim a cobiça.
Eu sou todas as criaturas e inexistem seres exteriores a mim.
Todos têm suas próprias razões.
É tarde demais. Sempre foi. Sempre será. Tarde demais.
Toda realidade é virtual.
A humanidade fracassou.
Não está nas mãos da humanidade evitar perder-se.
As pessoas acreditam no que querem acreditar.
Este mundo é o lugar onde nada se resolve.

14/05/2017

Quem se acha o máximo não se conhece a fundo; quem se acha um lixo não conhece a fundo os outros.

16/05/2017


Se você quer sucesso, venda ilusão (compare as carreiras de J. K. Rowling e de Thomas Ligotti, ou as de Lya Luft e de Ezio Flavio Bazzo). Inversamente, se você quer a verdade, ignore quem faz sucesso. 

*

O que mais tem nesse mundo é gente iludida. Se eu for me irritar toda vez que presencio uma pessoa dessas, não terei paz.


*

Minha atual definição para utopia: Em última instância, a utopia é a crença de que existe uma possibilidade de se deixar de sofrer por qualquer outro meio que não a morte. As utopias mais tradicionais (religiosas e políticas) acreditam na possibilidade de conciliar o Ser e o não sofrer (imaginam que de alguma forma é possível uma vida sem sofrimento), enquanto as utopias niilistas (como as de Schopenhauer e Nietzsche, respectivamente) acreditam que é possível o Ser transitar para o Nada (libertando-se desse mundo, ou deixando de produzi-lo, para ser mais exato) ou que é possível o Ser se satisfazer com o sofrimento, deixando de lamentá-lo, deixando se torturar-se por causa dele. Todas essas possibilidades são falsas, e, portanto, utópicas.

As ideologias só mudam quanto ao como fazer para chegar-se nesses estados fantasiosos de bem-aventurança, e é essa divergência o seu objeto de conflito. São diferentes caminhos que têm como guia a mesma miragem. Partem de diferentes loci sociais, e por isso observam a aporia de nossa existência de diferentes pontos de vista. Nesse sentido, estão todas em parte certas e em parte erradas. No geral, acabam acertando nas críticas que dirigem às outras ideologias, e errando nas defesas que fazem de si mesmas.

O retrato de nossa condição verdadeira é: “Não suportamos a vida, mas também não conseguimos nos livrar dela. Como espécie, continuamos a andar em círculos em torno dessa aporia, até a nossa eventual extinção – a qual virá pelo que tiver a oportunidade de ocorrer antes: seja por um evento aleatório totalmente exógeno à atividade autopoiética de nossa espécie, seja justamente como consequência da desmedida dessa atividade.” 

Qualquer outro retrato de nossa condição que burle seja lá por qual artifício essa verdade está maculado por ideologia-utopia.


17/05/2017

Sobre a fertilidade dos pobres: A minha hipótese - coerente com a antropologia cioriana - é que quanto mais ignorante a pessoa (e quanto mais desnutrida e portanto comprometida intelectualmente) mais ela se resume aos instintos autopoieticos, mais ela é uma mera máquina de comer e procriar. É o conforto e a sofisticação que permitem a reflexão e a negação dos instintos - ou ao menos sua sublimação por algum tipo de masturbação cultural.


18/05/2017

O mundo simulado base.
Imagine um futuro transhumano no qual as pessoas se divirtam imergindo em mundos de realidade virtual. Imagine que, tal como os web sites, existam milhões desses mundos, talvez mesmo bilhões. Semelhante ao que ocorre em Matrix reloaded, você pode passar do Japão Imperial para uma base em Marte ou do palácio de Calígula para a Terra Média cruzando apenas uma porta.

Essa diversão não é mero luxo: os transhumanos não têm com que ocupar suas vidas. Não precisam trabalhar para viver. Como já adiantou Schopenhauer (no §57 do tomo I de sua obra magna), essa situação de não ter que lutar para sobreviver, de ócio, logo leva ao desespero do tédio. Todos esses mundos virtuais têm como propósito basicamente distrair as pessoas transhumanas do vazio que existe dentro delas – tal qual sempre fizeram as religiões, a política, os esportes, os jogos de sedução, a sociabilidade, etc.

Agora imagine que existe uma espécie de mundo ilusório base, uma espécie de eixo central a partir do qual todos os outros, ou ao menos muitos, se ramificam. Essa base poderia servir, por exemplo, de ponto de partida para diferentes simulações. Por exemplo, se eu estou rodando uma simulação de 3.000 anos que começa comigo nascendo numa família medíocre qualquer e termina com eu sendo imperador da galáxia, essa simulação pode rodar, ao menos nas primeiras décadas, no mesmo mundo de tantas outras, como as das pessoas que sonham com utopias amorosas, ou como as das que sonham em ser celebridades, etc.

Essa base também poderia servir de ponto de descanso entre uma simulação megalomaníaca e outra: a mediocridade e a modorra podem servir de ínterim entre um delírio grandiloquente e outro. Essa simulação base pode servir também como uma prisão: os criminosos têm suas memórias apagadas e são jogados lá. Isso se não há os não buscam o esquecimento voluntariamente: nada melhor para fugir de si do que a amnésia, que também é útil para dar mais realismo para as simulações (muito melhor do que fingir ser Goku é ser ele mesmo, nem lembrando que um dia você já foi outra coisa senão isso). Por fim, esse mundo simulado base teria, como provavelmente todos os outros, figurantes, isto é, pessoas “falsas” – programas de computador que nunca tiveram um cérebro humano biológico, com neurônios, e que estão ali só para fazer massa (afinal, boa parte dos transhumanos desejam ter uma camarilha: há muito cacique para pouco índio, logo o jeito é simular esses índios).

Imaginou tudo isso?

Agora imagine que já estamos nesse mundo simulado base. 

*

“A vida é sonho”, já dizia Calderón. E como poderíamos separar realidade de ficção se a estrutura da realidade é ficcional e a ficção nasce da intuição do real? Não existe nenhum critério válido para definir com certeza qual é a natureza desse mundo – este conhecimento nos é sonegado. Estamos e sempre estaremos perdidos. 


"Nem a mais pequena suspeita de realidade em lado algum, a não ser nas minhas sensações de não realidade." (Cioran, "Do inconveniente de ter nascido", VII)

Nenhum comentário:

Postar um comentário