sábado, 6 de maio de 2017

XI

01/01/2017

As pessoas desejam “saúde” para as outras (em aniversários, no Ano Novo, etc.) como se isso algo que vem de graça, e não consequência de nossos hábitos. Fora aqueles vítimas de acidentes causados por outras pessoas e aqueles vítimas de seus genes particularmente ruins, todos nós pagaremos nessa vida pelos hábitos que cultivamos e pelas escolhas que fazemos.

04/01/2017


“Otimista racional” é uma contradição em termos: quando alguém busca ser o mais racional possível, não tem como se encaixar em qualquer definição de otimismo. Supondo-se que uma abordagem racionalista chegue não ao otimismo nem ao pessimismo, mas ao realismo, o que eu tenho a acrescentar é que esse realismo não está a um ponto eqüidistante do pessimismo e do otimismo, mas sim mais perto do primeiro do que do segundo: isso porque o realismo racional – munido de uma extensa investigação ontológica e fenomenológica – não tem como não se aproximar do pessimismo ontológico, que nada tem em comum com qualquer denominação de otimista.

14/01/2017

Os 4 níveis da ficção:

1. Intuição (percepção sensual do mundo);
2. Teoria (explicação da intuição);
3. Ideologia (teoria social);
4. Utopia (idealização do mundo para além do intuído).

20/01/2017

Teori da conspiração e os pseudocéticos
Descobri um dos motivos porque eu sou atraído por teorias da conspiração: porque elas levantam dúvidas sobre pessoas e instituições de reputação ilibada, logo porque elas rompem com o bom-mocismo e com a razoabilidade ingênua (e otimista ontológica) e apontam para o pessimismo ontológico que tanto me agrada.
Assim como ocorre com as pessoas individuais, com as famílias e com os demais grupos, as instituições sociais mantém uma aparência ilibada, enquanto por debaixo dos panos a corrupção corre a solta. Enquanto os teóricos da conspiração apontam o dedo para essa corrupção generalizada, seus críticos arautos da razoabilidade chamam a atenção para a aparência ilibada do verniz de sociabilidade.
Como a realidade é construída socialmente e como existe uma divisão social do conhecimento, em última instância cada um se vê na posição de ter que acreditar no que especialistas dizem. Como todo ser humano é corrupto, não há como confiar 100% em qualquer especialista ou autoridade, por mais ilibada que seja sua reputação. Uma postura “verdadeiramente” cética não é aquela que descarta prontamente as teorias da conspiração em nome da razoabilidade e da crença nas instituições e no ser humano, tampouco é aquela que abraça as teorias da conspiração em nome da desconfiança nos poderes estabelecidos: as teorias da conspiração estão mais corretas no que questionam do que no que constroem: demolem ídolos para colocar novos no lugar, usam da desconfiança para logo apelarem para a confiança. Dessa maneira, o cético de verdade acaba simplesmente não acreditando nem nas versões oficiais nem nas teorias da conspiração: essa seria uma posição mais honesta e cética: admitir que simplesmente não há como saber “a verdade” sobre essas questões.
Se não temos como saber se um avião com um ministro do STF que era relator da Lava-Jato caiu por sabotagem ou não – se não temos como saber nem a verdade sobre um evento concreto que de fato ocorreu agora pouco –, imagine então se temos como saber se esse mundo é ou não uma simulação, se existem outros níveis de realidade que afetam esse aqui, etc. etc. A postura mais honesta intelectualmente NÃO é a dos “céticos” arautos da razoabilidade – que se agarram ao senso-comum, à cotidianidade reificada, ao “bom senso”e a uma cosmovisão em última instância otimista – mas sim aquela que admite que simplesmente não temos como saber a verdade nem sobre um evento pontual como essa queda de avião, e muito menos sobre o que é esse mundo.
“Ceticismo” não é defender a visão razoável, “científica”, racional da realidade – isso é “razoalismo”, cientificismo, racionalismo. Ceticismo é não acreditar em nenhuma visão da realidade – é perceber que toda metanarrativa é falha. Claro que umas são mais prováveis do que outras, são mais bem-cosntruídas do que outras – mas daí podemos no máximo estabelecer uma estimativa de probabilidades, e não uma certeza, como “os céticos” (racionalistas, cientificistas) pretendem fazer. 

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