sábado, 6 de maio de 2017

XII

29/01/2017

Um bom livro de sociologia geral, quando estudado atentamente, é suficiente para esgotar a “profundidade” que quase qualquer filme ou romance. A parte “profunda” dessas obras sempre refere-se à ontologia do ser social e/ou da natureza humana. Quando alguém – como eu – já leu e pensou muito sobre essas ontologias e tem uma posição muito bem definida nesse quesito, as referidas obras de arte ou soam redundantes – quando apontam na direção da minha opinião (pessimismo ontológico) – , ou soam fúteis – quando apontam na direção oposta (otimismo ontológico).


01/02/2017

“Só os tolos não julgam pelas aparências”. (Oscar Wilde)

Se é verdade que o Bem e a moral são, no limite, incompatíveis com a vida (e nesse ponto concordam Schopenhauer, Nietzsche e Cioran), também é verdade que a total amoralidade inviabiliza a vida humana (regredindo-a à animalidade). Ou seja, a autopoiese humana apenas é possível nesse “espaço de mediocridade” entre os extremos da total bondade e da total amoralidade, da completa empatia e da total psicopatia. Não só o Bem é incompatível com a vida, mas o Mal também: ela apenas funciona no movimento sinérgico de ambos.


O próprio “eu” é uma reificação. Assim como no parágrafo acima, a vida só existe numa área de mediocridade entre a total reificação e a total desreificação.

06/02/2017

Se a vida não tem sentido, não existem uma forma “certa” (melhor) de se viver e formas “erradas” (piores) de se viver. Existem apenas diferentes formas de se distrair enquanto a morte não chega.

09/02/2017

Reflexão suscitada por ocasião da seita do Waldo Vieira:
Como diria o Cioran, o homem é o ser delirante por excelência. É o que vemos nesses casos: basta a pessoa exigir uma prova científica verdadeira (que siga realmente o método científico) como pré-requisito para se entregar ao delírio, e tudo se esfumaça no ar. Se Waldo Vieira tivesse estabelecido a si mesmo a meta de primeiro provar a projeção astral cientificamente para só então depois utilizá-la como ferramenta epistemológica, não teria construído seu império enciclopédico. Ou ele nunca estudou o método científico, ou ressignificou o conceito de ciência para que conseguisse acreditar que suas crenças são balizadas pela ciência – em ambos os casos, é um pseudocientista e um charlatão.

08/03/2017

É o caráter estruturalmente vazio da consciência – o “vazio da máquina” – que configura nossa eterna insatisfação: é um vazio que nada pode preencher, mas que nos mantém numa eterna busca por uma satisfação a priori impossível.

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É comum na nossa sociedade a utilização da seguinte chantagem emocional com as pessoas que avisam que têm vontade de se matar (ou que já tentaram e não conseguiram): que é “egoísmo” fazer isso e deixar a família em sofrimento (supostamente causado pela falta da pessoa). E não é “egoísmo” dos membros dessa família exigir que a pessoa fique viva apenas para não terem que lidar com a culpa de não ter feito nada substancial para cuidar da pessoa?


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