29/01/2017
Um bom livro
de sociologia geral, quando estudado atentamente, é suficiente para esgotar a
“profundidade” que quase qualquer filme ou romance. A parte “profunda” dessas
obras sempre refere-se à ontologia do ser social e/ou da natureza humana.
Quando alguém – como eu – já leu e pensou muito sobre essas ontologias e tem
uma posição muito bem definida nesse quesito, as referidas obras de arte ou
soam redundantes – quando apontam na direção da minha opinião (pessimismo
ontológico) – , ou soam fúteis – quando apontam na direção oposta (otimismo
ontológico).
01/02/2017
“Só os tolos
não julgam pelas aparências”. (Oscar Wilde)
Se é verdade
que o Bem e a moral são, no limite, incompatíveis com a vida (e nesse ponto
concordam Schopenhauer, Nietzsche e Cioran), também é verdade que a total
amoralidade inviabiliza a vida humana (regredindo-a à animalidade). Ou seja, a
autopoiese humana apenas é possível nesse “espaço de mediocridade” entre os
extremos da total bondade e da total amoralidade, da completa empatia e da
total psicopatia. Não só o Bem é incompatível com a vida, mas o Mal também: ela
apenas funciona no movimento sinérgico de ambos.
O próprio
“eu” é uma reificação. Assim como no parágrafo acima, a vida só existe numa
área de mediocridade entre a total reificação e a total desreificação.
06/02/2017
Se a vida
não tem sentido, não existem uma forma “certa” (melhor) de se viver e formas
“erradas” (piores) de se viver. Existem apenas diferentes formas de se distrair
enquanto a morte não chega.
09/02/2017
Reflexão
suscitada por ocasião da seita do Waldo Vieira:
Como diria o
Cioran, o homem é o ser delirante por excelência. É o que vemos nesses casos:
basta a pessoa exigir uma prova científica verdadeira (que siga realmente o
método científico) como pré-requisito para se entregar ao delírio, e tudo se
esfumaça no ar. Se Waldo Vieira tivesse estabelecido a si mesmo a meta de
primeiro provar a projeção astral cientificamente para só então depois
utilizá-la como ferramenta epistemológica, não teria construído seu império
enciclopédico. Ou ele nunca estudou o método científico, ou ressignificou o
conceito de ciência para que conseguisse acreditar que suas crenças são
balizadas pela ciência – em ambos os casos, é um pseudocientista e um
charlatão.
08/03/2017
É o caráter
estruturalmente vazio da consciência – o “vazio da máquina” – que configura
nossa eterna insatisfação: é um vazio que nada pode preencher, mas que nos
mantém numa eterna busca por uma satisfação a priori impossível.
*
É comum na
nossa sociedade a utilização da seguinte chantagem emocional com as pessoas que
avisam que têm vontade de se matar (ou que já tentaram e não conseguiram): que
é “egoísmo” fazer isso e deixar a família em sofrimento (supostamente causado
pela falta da pessoa). E não é “egoísmo” dos membros dessa família exigir que a
pessoa fique viva apenas para não terem que lidar com a culpa de não ter feito
nada substancial para cuidar da pessoa?
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