sábado, 6 de maio de 2017

XVII

30/04/2017

Quanto mais despida de ideologia uma metanarrativa se pretende, mais ela precisa se policiar para se despir de juízos de valor – principalmente quando se põe a pensar a respeito de outras metanarrativas. Repetidamente vejo pessoas associadas a alguma metanarrativa/ideologia acusar os que pensam diferentes de serem burros ou mesmo dotados de “mal-caráter”: quando esse tipo de argumento é o melhor que se tem, revela-se o quão vitimado se está pelos próprios vieses cognitivos e pela própria adesão cega a uma fé, ao ponto de não conseguir nem imaginar o funcionamento da mente alheia sem apelar para a acusação dela ser inferior a sua.

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Niilismo criacionista
Mesmo que vivêssemos em um mundo claramente fabricado para a nossa moradia – como seria o caso se adotássemos o modelo da Terra Plana – assim mesmo poderíamos assumir uma postura basicamente niilista. Para entender isso, basta notar a relação que nós humanos temos com animais em aquários, com fazenda de formigas, com os fungos que destilam álcool (ou coalham leite, ou fazem os pães crescer, etc.), com ratos em laboratório, com bactérias em uma placa de Petri, com as bactérias do nosso sistema digestório, com nossos videgames, etc.
Qualquer uma dessas relações que temos com esses seres mencionados poderia ser muito parecida com a relação que temos com o criador/proprietário desse nosso universo da Terra Plana: poderíamos servir de passatempo e enfeite; poderíamos com nosso metabolismo sintetizar algum valor de uso; poderíamos ser um experimento científico sério (realizado por cientistas profissionais), ou mesmo um experimento científico caseiro (realizado por algum adolescente em seu quarto ou no porão); poderíamos ser parte de um organismo e contribuir para o seu funcionamento; poderíamos ser uma simulação virtual (a qual poderia servir tanto para fins de pesquisa quanto para mero entretenimento), etc.
         A razão especulativa permitiria validar qualquer uma dessas hipóteses, e tantas outras (como a da Gnose), mesmo em um mundo notadamente fabricado para que nele nós habitássemos. As conclusões às quais os criacionistas judaico-cristãos chegam não são baseadas em evidências, mas sim nos seus instintos de autopreservação.

06/05/2017


Nessa sístase, a elite, maquiavélica e altamente instruída, dá as mãos com a massa, ignara e neurótica, para, juntas, construírem o pior. 

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