sábado, 6 de maio de 2017

XIV

01/04/2017

O “despertar para o Essencial” (para o conhecimento da inanidade do ser) depende de um misto de sofrimento com hipertrofia da lucidez. A falta de um grau suficiente tanto de um como de outro não é suficiente para servir de gatilho a esse “despertar”. Por isso algumas pessoas, por mais inteligentes (mesmo geniais) que sejam, não descobrem o Essencial PORQUE SEM UM SOFRIMENTO EXPRESSIVO NÃO VÃO DIGIRIA A SUA INTELIGÊNCIA PARA ESSA QUESTÃO. Também pode ocorrer de alguém ingênuo sofrer muito e, por déficit de um nível mínimo de inteligência, não despertar para o Essencial.


“Somente os verdadeiros sofredores são capazes de uma seriedade autêntica. Os outros estão prestes a renunciar, ao fundo deles mesmos, às revelações metafísicas originárias do desespero e da agonia em troca de um amor inocente ou de uma voluptuosa inconsciência.” (Cioran em "Nos Cumes do Desespero")

02/04/2017

Se existem milhares de realidades (representações do real), cada qual com sua metanarrativa sobre o que é a vida e o que ocorre após o evento da morte, então é tautológico que não só a maioria (senão todas, caso nenhuma dessas realidades corresponda ao real) das pessoas vive enganada como morre na expectativa de que aconteça algo que não acontece quando a morte se efetiva.

04/04/2017

Segundo Stephen Hawking, daria para destruir todo o universo – rasgando o campo de Higs – com um acelerador de partículas de diâmetro se circunferência equivalente ao da Terra. Segundo o mesmo físico, para estudar fenômenos do tamanho do comprimento de um plank seria necessário um acelerador de partículas com diâmetro equivalente ao nosso sistema solar.
Conclusão 1: é mais fácil destruir todo o universo do que descobrir todos os seus segredos constitutivos.
Conclusão 2: um civilização altamente tecnológica poderia destruir o universo inteiro, seja sem querer seja propositalmente.

10/04/2017

Eu posso, simultaneamente, achar que sou mais lúcido do que a maioria (que a minha visão de mundo particular é mais verdadeira que a visão de mundo da maioria das pessoas) e que ninguém é melhor do que ninguém (ou seja, que eu não sou melhor do que os outros). Isso porque o sentido da vida não é “descobrir a verdade/ter mais lucidez”: mesmo eu estando acima da média nesse quesito, como estar acima da média nesse quesito não é o sentido da vida então isso não me faz melhor do que ninguém (assim como não faria sê-lo ser especializado em qualquer atividade).

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Cada um é um universo. Mas alguns universos são mais áridos que outros.

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O século XX foi o momento no qual a humanidade descobriu quem é e ao mesmo tempo cavou a própria cova.

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É tudo uma grande masturbação.

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A “sensação de irrealidade” – o estranhamento – é um sinal da desabrochar da lucidez, um sinal de início de desreificação da consciência. Ela está na origem da religião e da filosofia. Chega a ser inacreditável que aquele psiquiatra imbecil que diagnosticou esquizofrênico por causa disso. É isso que acontece quando se aceita insiders como autoridade...


11/04/2017

Tanto utopia quanto distopia são estímulos à ação: a utopia é uma promessa de prazer atrás da qual se corre e a distopia é uma promessa de sofrimento a evitar-se que se substancie. Assim como a utopia produz as ideologias, a guerra entre as ideologias produz as distopias como ferramentas que cada ideologia produz para desqualificar suas concorrentes.
Assim como a utopia é impossível, a rigor a distopia é também impossível – ou pelo menos não é muito durável. A menos que se entenda como distopia a própria realidade de insatisfação humana, que vai aparecer inevitavelmente em qualquer sociedade (ou mesmo num indivíduo sozinho). Agora, a figura da distopia como um império de terror totalitário e definitivo é fantasiosa porque a vida humana sequer suportaria uma condição dessas sem que isso levasse a extinção da espécie por anomia dos indivíduos.

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Se partimos da premissa que tanto a direita quanto a esquerda têm um compromisso com a ideia de mundo melhor, então eu não sou nem de esquerda nem de direita, pois não tenho esse compromisso. Não sou nem “isentão”, pois esse nome é usado para descrever quem tem opiniões que ora estão mais para um lado ora estão mais para outro lado do espectro político. Eu estou mais para “indiferentão”, já que simplesmente não tenho opiniões políticas. Eu não falo em nome de coletividades, não sei o que é melhor ou pior para elas. O máximo que posso fazer é dizer o que eu ACHO (e mesmo essa opinião pode estar errada) que seria melhor para mim – o que não quer dizer que eu quero convencer os outros a pensar como eu penso, afinal ninguém além de mim precisa se preocupar com meus próprios interesses. Entendo que alguém de esquerda possa acusar essa minha posição de ser de direita, de ser alienada e etc. Tudo bem, cada um acredita no que quiser, não é objetivo meu que os outros achem que eu sou “do bem”, que eu não sou alienado, que eu faço parte da solução e não do problema, etc.

12/04/2017

A dinâmica da vida pressupõe uma dialética entre competição/ódio e cooperação/amor – isso também é válido para o funcionamento das sociedades humanas. No atual estágio tecnológico da civilização tudo indica que iremos nos destruir enquanto espécie por um excesso de competição/ódio/atividade. Mas o que os defensores do amor e de compaixão não percebem é que esses sentimentos se muito difundidos também inviabilizam o funcionamento de uma sociedade e, no limite, a própria autopoiese da espécie: se todos os seres humanos se afundassem da empatia, na compaixão e no amor, isso os levaria à inação ascética, e, por fim, à extinção voluntária. Mas isso nunca acontecerá, pois exigiria um grau inatingível de negação de nossas programações biológicas autopoiéticas (por mais que muitos indivíduos escolhessem esse caminho, sempre restaria alguns que não o fariam e assim dariam continuidade á espécie). Na pratica, o que a história da humanidade demonstrou exaustivamente é que aquelas sociedades nas quais a empatia se desenvolve demais acabam se enfraquecendo e sendo dominadas (ou mesmo varridas do mapa) por outras sociedades mais brutas, mais odiosas, violentas, ativas, másculas, etc.
Os evangelistas da empatia estão, portanto, militando em vão (como o estão os evangelistas de qualquer causa). E resta saber se eles percebem que o nosso padrão material de vida depende diretamente do atual nível de ódio/competição/violência/reificação. Estaria disposta a evangelista Maristela, por exemplo, a não ter um automóvel (e outros confortos capitalistas que ela tem) em troca de uma maior empatia entre as pessoas? É que ela provavelmente não percebe o papel construtivo que a violência tem em nossa civilização de alta entropia. Na cabeça maniqueísta viesada desses evangelistas da não violência e da empatia, a competição só produz o mal, só atrapalha o funcionamento da vida, e o amor só produz o bem, só viabiliza a autopoiese: não percebem o caráter fundamentalmente contraditório, aporético, da própria vida, do próprio ser; são vítimas do próprio otimismo ontológico que cultivam.

13/04/2017

Não sabendo que era impossível, foi lá e... se ferrou.

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Cada corpo no Everest ja foi um homem extremamente motivado.

15/04/2017

Se você não ri da insanidade, você se torna insano. Levar as coisas a sério é fatal.

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Nesse mundo onde nada se resolve, cada um acredita no que quer acreditar. 

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